Um
autêntico herói paranaense...e por que não dizer um herói
curitibano...
Neste mês de fevereiro,
mais precisamente no dia 09, a histórica cidade da Lapa, enraizada
nos campos gerais das terras paranaenses, relembrou um famoso
episódio que ficou conhecido como o Cerco da Lapa, durante a
Revolução Federalista.
Esse
fato histórico,
ocorrido
naquela
localidade no ano de 1894,
transfomou
a cidade numa
arena de sangrento confronto entre tropas republicanas, os então
nominados
Pica-paus, e os Maragatos,
contrários
à
República.
A Lapa resistiu bravamente até que os Lapeanos, comandados pelo
General Ernesto Gomes Carneiro, caíram extenuados
em
combate. Resistiram ao cerco por 26 dias, mas sucumbiram frente
ao
poderio
do
exército republicano, em
maior número.
Esse
fato
histórico nos remete também a um triste episódio, ocorrido no
Planalto curitibano durante aquela
Revolução Federalista, e que
tem ao centro a
brava figura do Barão do Cerro Azul. Nascido
Ildefonso Pereira Correia, na cidade portuária de Paranaguá,
Ildefonso foi um grande comerciante paranaense, maior produtor de
erva mate do mundo, e maior exportador da erva no país. O
envolvimento com as questões políticas tiveram início antes mesmo
do menino Ildefonso se entender de gente, em seu nascimento, pois seu
pai, por ter ter imprimido um manifesto solicitando a separação da
comarca de Curitiba da província
de São Paulo, perdeu todos os seus cargos públicos.
Assim,
Ildefonso conviveu desde cedo com questões políticas, e
com as lutas entre ideias antagônicas entre conservadorismo e
liberalismo e escravatura e abolicionismo. Cursou Humanidades, na
cidade imperial do Rio de Janeiro, o que, provavelmente, lhe deu uma
visão mais humanista da condição e das questões envolvendo os
seres humanos. Ao retornar da capital do império, envolveu-se com os
negócios de erva-mate, visitou mercados importadores do cone sul,
abriu seu primeiro negócio em sociedade e participou de exposição
no mercado norte-americano, o que o levou a ser convidado
a participar da política pelo partido conservador, tornando-se
deputado provincial.
Com
a construção da estrada da Graciosa, transferiu seus negócios para
Curitiba. Na
capital, adquiriu e modernizou engenhos, envolveu-se coma exportação
de madeira, com a imprensa,
com
indústria
de embalagens para a erva-mate, com
o sistema
financeiro e foi diretor da Sociedade Protetora
de Ensino. Além de tudo tudo isso foi um dos fundadores da ACP –
Associação Comercial do Paraná, da qual se tornou o primeiro
presidente. Tornou-se assim, um dos vultos que mais produziu na
política e na atividade empresarial em terras paranaenses.
Possuia
a simpatia do imperador, e recebeu daquele a comenda da Imperial
Ordem da Rosa, foi deputado provincial e assumiu interinamente o
governo da província nos idos de 1888. O título de Barão adveio
pelas mãos da princesa Isabel, enquanto regente do Brasil,
provavelmente por ser um abolicionista convicto, e por ter, quando
presidente da da Câmara Munipal de Curitiba, se comprometido
publicamente com a emancipação dos escravos no município.
Com
o advento da "Proclamação da Répública", um dos muitos
golpes pelos quais passou a história dessa nação, foi convidado
pelo então governador, Vicente Machado da Silva Lima, para a
comissão organizadora do partido republicano. Porém a situação
mudou repentinamente com a renúncia do alagoano golpista Deodoro da
Fonseca e a ascensão
de outro alagoano mão de ferro, Floriano Peixoto, que dissolveu o
Congresso e convocou novas eleições. Células
de resistência à República se formaram nos estados do sul, o que
provocou reações do poder central, e tropas foram enviadas para
controlar os revoltosos, dando início à Revolução Federalista.
Prevendo
a
eminente invasão pelos
maragatos, que ameaçavam destruir a cidade de Curitiba, o Barão
procurou o então governador da província, o Senhor Vicente Machado,
que o tranquilizou, afirmando que a situação estava sob total
controle, e que as tropas do governo garantiriam a segurança da
cidade e de sua população.
Ao
se aproximarem os
maragatos da
cidade, o senhor governador, juntamente com suas tropas abandonaram a
cidade, deixando a população de Curitiba à própria sorte.
Vendo-se obrigado a assumir o controle da situação, o Barão
precisou negociar com as tropas resistentes,
salvando assim a cidade de uma provável destruição.
Ao
retornar à cidade, Vicente Machado determinou
a prisão do Barão, juntamente com outros proeminentes políticos
que negociaram com os maragatos, acusando-os de traição. Ao serem
encaminhados para julgamento no Rio de Janeiro, os prisioneiros foram
embarcados com destino a Paranaguá, onde deveriam tomar o vapor que
os conduziria à capital do país.
Contudo,
os prisioneiros, juntamente com o Barão, jamais chegariam à capital
da recém proclamada República, ou mesmo ao porto da cidade costeira
e
portuária de
Paranaguá. Ao adentrar a serra do mar, já
no município de Morretes, km 65, o
trem foi parado, e todos os prisioneiros foram desembarcados
e sumariamente
fuzilados. A situação era tão tensa e opressiva que o corpo do
Barão foi resgatado às
escondidas,
e sepultado no
meio da noite,
sem nenhum alarde, em
cova sem identificação, no
Cemitério Municipal de Curitiba, não muito longe de sua residência,
que hoje abriga o complexo cultural Solar do Barão.
O que nos sugere a
história do Barão do Serro Azul é que nem todo burguês é mau,
assim como nem todo proletário é bandido, como costuma julgar o
imaginário popular, manipulado pelo poder econômico. Mas o poder, -
Ah, o poder! - o poder, sem nenhum controle, é essencialmente
criminoso!
Sérgio Moab Amorim de Albuquerque - CRP 08/08067-7
Psicólogo / Psicanalista / Servidor Público
Formação em Gestão Estratégica de Pessoas / Abordagem Psicanalítica / Sociologia Política
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