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sexta-feira, 3 de março de 2017

ILDEFONSO PEREIRA CORREIA...ou, O BARÃO DO SERRO AZUL

  

Um autêntico herói paranaense...e por que não dizer um herói curitibano...

Neste mês de fevereiro, mais precisamente no dia 09, a histórica cidade da Lapa, enraizada nos campos gerais das terras paranaenses, relembrou um famoso episódio que ficou conhecido como o Cerco da Lapa, durante a Revolução Federalista.

Esse fato histórico, ocorrido naquela localidade no ano de 1894, transfomou a cidade numa arena de sangrento confronto entre tropas republicanas, os então nominados Pica-paus, e os Maragatos, contrários à República. A Lapa resistiu bravamente até que os Lapeanos, comandados pelo General Ernesto Gomes Carneiro, caíram extenuados em combate. Resistiram ao cerco por 26 dias, mas sucumbiram frente ao poderio do exército republicano, em maior número.

Esse fato histórico nos remete também a um triste episódio, ocorrido no Planalto curitibano durante aquela Revolução Federalista, e que tem ao centro a brava figura do Barão do Cerro Azul. Nascido Ildefonso Pereira Correia, na cidade portuária de Paranaguá, Ildefonso foi um grande comerciante paranaense, maior produtor de erva mate do mundo, e maior exportador da erva no país. O envolvimento com as questões políticas tiveram início antes mesmo do menino Ildefonso se entender de gente, em seu nascimento, pois seu pai, por ter ter imprimido um manifesto solicitando a separação da comarca de Curitiba da província de São Paulo, perdeu todos os seus cargos públicos.

Assim, Ildefonso conviveu desde cedo com questões políticas, e com as lutas entre ideias antagônicas entre conservadorismo e liberalismo e escravatura e abolicionismo. Cursou Humanidades, na cidade imperial do Rio de Janeiro, o que, provavelmente, lhe deu uma visão mais humanista da condição e das questões envolvendo os seres humanos. Ao retornar da capital do império, envolveu-se com os negócios de erva-mate, visitou mercados importadores do cone sul, abriu seu primeiro negócio em sociedade e participou de exposição no mercado norte-americano, o que o levou a ser convidado a participar da política pelo partido conservador, tornando-se deputado provincial.

Com a construção da estrada da Graciosa, transferiu seus negócios para Curitiba. Na capital, adquiriu e modernizou engenhos, envolveu-se coma exportação de madeira, com a imprensa, com indústria de embalagens para a erva-mate, com o sistema financeiro e foi diretor da Sociedade Protetora de Ensino. Além de tudo tudo isso foi um dos fundadores da ACP – Associação Comercial do Paraná, da qual se tornou o primeiro presidente. Tornou-se assim, um dos vultos que mais produziu na política e na atividade empresarial em terras paranaenses.

Possuia a simpatia do imperador, e recebeu daquele a comenda da Imperial Ordem da Rosa, foi deputado provincial e assumiu interinamente o governo da província nos idos de 1888. O título de Barão adveio pelas mãos da princesa Isabel, enquanto regente do Brasil, provavelmente por ser um abolicionista convicto, e por ter, quando presidente da da Câmara Munipal de Curitiba, se comprometido publicamente com a emancipação dos escravos no município.

Com o advento da "Proclamação da Répública", um dos muitos golpes pelos quais passou a história dessa nação, foi convidado pelo então governador, Vicente Machado da Silva Lima, para a comissão organizadora do partido republicano. Porém a situação mudou repentinamente com a renúncia do alagoano golpista Deodoro da Fonseca e a ascensão de outro alagoano mão de ferro, Floriano Peixoto, que dissolveu o Congresso e convocou novas eleições. Células de resistência à República se formaram nos estados do sul, o que provocou reações do poder central, e tropas foram enviadas para controlar os revoltosos, dando início à Revolução Federalista.

Prevendo a eminente invasão pelos maragatos, que ameaçavam destruir a cidade de Curitiba, o Barão procurou o então governador da província, o Senhor Vicente Machado, que o tranquilizou, afirmando que a situação estava sob total controle, e que as tropas do governo garantiriam a segurança da cidade e de sua população.

Ao se aproximarem os maragatos da cidade, o senhor governador, juntamente com suas tropas abandonaram a cidade, deixando a população de Curitiba à própria sorte. Vendo-se obrigado a assumir o controle da situação, o Barão precisou negociar com as tropas resistentes, salvando assim a cidade de uma provável destruição.

Ao retornar à cidade, Vicente Machado determinou a prisão do Barão, juntamente com outros proeminentes políticos que negociaram com os maragatos, acusando-os de traição. Ao serem encaminhados para julgamento no Rio de Janeiro, os prisioneiros foram embarcados com destino a Paranaguá, onde deveriam tomar o vapor que os conduziria à capital do país.

Contudo, os prisioneiros, juntamente com o Barão, jamais chegariam à capital da recém proclamada República, ou mesmo ao porto da cidade costeira e portuária de Paranaguá. Ao adentrar a serra do mar, já no município de Morretes, km 65, o trem foi parado, e todos os prisioneiros foram desembarcados e sumariamente fuzilados. A situação era tão tensa e opressiva que o corpo do Barão foi resgatado às escondidas, e sepultado no meio da noite, sem nenhum alarde, em cova sem identificação, no Cemitério Municipal de Curitiba, não muito longe de sua residência, que hoje abriga o complexo cultural Solar do Barão.

O que nos sugere a história do Barão do Serro Azul é que nem todo burguês é mau, assim como nem todo proletário é bandido, como costuma julgar o imaginário popular, manipulado pelo poder econômico. Mas o poder, - Ah, o poder! - o poder, sem nenhum controle, é essencialmente criminoso!


Sérgio Moab Amorim de Albuquerque - CRP 08/08067-7
Psicólogo / Psicanalista / Servidor Público
Formação em Gestão Estratégica de Pessoas / Abordagem Psicanalítica / Sociologia Política
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