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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

UMA EXPERIÊNCIA POLÍTICA

Neste final de semana passado, tive a honra de participar de um encontro político de servidores da área do trabalho e da seguridade social e de, lamentavelmente naquela oportunidade, presenciar manobras atrozes, embora infinitamente menores do que aquelas que, por exemplo, envolvem e sempre envolveram as tentativas de desmonte da Petrobras ao longo de sua história de sucesso, mas com o mesmo e vil viés. Ou seja, o que se viu naqueles momentos de discussão acalorada, supostamente em benefício da categoria, foi uma disputa por espaços de poder, promovida pela chapa 3 (mudança e renovação), usando como motor dessa disputa a questão, já há muito tempo discutida e sem efetivo sucesso, da carreira do servidor do Seguro Social. Parece que a história do país se repete na singularidade da luta política dentro da Federação, onde a força legal de um estatuto pode ser considerada menor em face das aspirações políticas de alguns.

Uma postura manipuladora, oportunista e condutora de uma política criadora de castas, com o objetivo claro de barganhar espaço nos escombros do que pode restar do Estado de Bem-Estar Social, caso o projeto de Estado Mínimo Neoliberal seja completamente implantado em nosso país, pela canalha que promoveu e produziu o Golpe de 2016 e seus sucessores, é o que desfilou nas entrelinhas de certos discursos, cuidadosamente elaborados para assim não parecer. Essa é a experiência por mim vivenciada, em relação aos objetivos daquele grupo político naquele momento. O contexto de desmonte atual e os caminhos trilhados pelo chamado INSS Digital são aderentes à materialização desses objetivos, com a expulsão da maioria dos segurados para a iniciativa privada e a terceirização do atendimento da parte mais carente da população, que deverá se submeter à assistência do Estado. É esse nicho de assistência burocraticamente estabelecido no Estado, e apartado do contato com o povo, que aparece aos olhos desses companheiros como o ideal de trabalho a ser alcançado com uma carreira típica, com o status de servidores de nível superior, de acordo com os dois pontos pretendidos e defendidos para a referida carreira.

Ora, uma das questões mais importantes para entendermos aquele discurso, passa pelo entendimento do que seja uma carreira típica de Estado, e todas as implicações que disso decorrem. Há tempos, em uma oportunidade de uma palestra sobre Gestão por Competências, cheguei a declarar que nossa carreira era típica de Estado. O contexto àquela época era bem outro, pois havia uma clara inteção do governo à época no desenvolvimento do Estado de Bem-Estar Social brasileiro, onde uma carreira dentro da seguridade estaria inexoravelmente ligada ao Estado. O momento de desmonte pelo qual passamos aponta para a direção inversa, ou seja, para a desconstrução de nosso parco Estado de Bem-Estar e para a implantação do Estado Mínimo Neoliberal. Se há algum tipo de estímulo ou patrocínio a esses companheiros em direção à defesa de uma carreira típica nesse momento, há algo muito errado aí. Toda essa movimentação em torno da ideia de carreira típica de um Estado que está sendo desconstruído sugere que esses companheiros, de alguma forma, estão sendo ludibriados e usados na facilitação do processo da desconstrução institucional da Seguridade.

Todo esse processo que usa a tecnologia como fator de sustentação de suas ações, e tem na ideia de modernidade sua propaganda mais eficaz, aponta para a criação de uma casta de burocratas, analistas de processos administrativos, muito distantes da realidade social caótica na qual sempre estivemos mergulhados, produzida por um sistema perverso de apartheid social, e muito distantes da realidade vivida por parcela considerável do povo brasileiro, sobretudo após a adoção de medidas ultraneoliberais patrocinadas pelo governo golpista que assumiu os rumos da nação a partir de 2016.

Contudo, aqueles companheiros não devem ser discriminados por sua postura equivocada em relação ao povo e à classe trabalhadora, sua própria classe, pois, a exemplo de grande parte da população das classes médias desse país, possuem uma enorme dificuldade de se alinhar ao povo, preferindo se alinhar à elite, da qual sentem enorme admiração e inveja, tendo sido forjados na ideia do "self made man", que fomenta um individualismo exacerbado, e se caracteriza como um dos elementos mais importantes em todos os tempos da ideologia neoliberal.

Curitiba, 31 de agosto de 2018

Sérgio Moab Amorim de Albuquerque - CRP 08/08067-7
Psicólogo / Psicanalista / Servidor Público
Formação em Gestão Estratégica de Pessoas / Abordagem Psicanalítica / Sociologia Política
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