Neste
final de semana passado, tive a honra de participar de um encontro
político de servidores da área do trabalho e da seguridade social e
de, lamentavelmente naquela oportunidade, presenciar manobras
atrozes, embora infinitamente menores do que aquelas que, por
exemplo, envolvem e sempre envolveram as tentativas de desmonte da
Petrobras ao longo de sua história de sucesso, mas com o mesmo e vil
viés. Ou seja, o que se viu naqueles momentos de discussão
acalorada, supostamente em benefício da categoria, foi uma disputa
por espaços de poder, promovida pela chapa 3 (mudança e renovação),
usando como motor dessa disputa a questão, já há muito tempo
discutida e sem efetivo sucesso, da carreira do servidor do Seguro
Social. Parece que a história do país se repete na singularidade da
luta política dentro da Federação, onde a força legal de um
estatuto pode ser considerada menor em face das aspirações
políticas de alguns.
Uma
postura manipuladora, oportunista e condutora de uma política
criadora de castas, com o objetivo claro de barganhar espaço nos
escombros do que pode restar do Estado de Bem-Estar Social, caso o
projeto de Estado Mínimo Neoliberal seja completamente implantado em
nosso país, pela canalha que promoveu e produziu o Golpe de 2016 e
seus sucessores, é o que desfilou nas entrelinhas de certos
discursos, cuidadosamente elaborados para assim não parecer. Essa é
a experiência por mim vivenciada, em relação aos objetivos daquele
grupo político naquele momento. O contexto de desmonte atual e os
caminhos trilhados pelo chamado INSS Digital são aderentes à
materialização desses objetivos, com a expulsão da maioria dos
segurados para a iniciativa privada e a terceirização do
atendimento da parte mais carente da população, que deverá se
submeter à assistência do Estado. É esse nicho de assistência
burocraticamente estabelecido no Estado, e apartado do contato com o
povo, que aparece aos olhos desses companheiros como o ideal de
trabalho a ser alcançado com uma carreira típica, com o status de
servidores de nível superior, de acordo com os dois pontos
pretendidos e defendidos para a referida carreira.
Ora,
uma das questões mais importantes para entendermos aquele discurso,
passa pelo entendimento do que seja uma carreira típica de Estado, e
todas as implicações que disso decorrem. Há tempos, em uma
oportunidade de uma palestra sobre Gestão por Competências, cheguei
a declarar que nossa carreira era típica de Estado. O contexto
àquela época era bem outro, pois havia uma clara inteção do
governo à época no desenvolvimento do Estado de Bem-Estar Social
brasileiro, onde uma carreira dentro da seguridade estaria
inexoravelmente ligada ao Estado. O momento de desmonte pelo qual
passamos aponta para a direção inversa, ou seja, para a
desconstrução de nosso parco Estado de Bem-Estar e para a
implantação do Estado Mínimo Neoliberal. Se há algum tipo de
estímulo ou patrocínio a esses companheiros em direção à defesa
de uma carreira típica nesse momento, há algo muito errado aí.
Toda essa movimentação em torno da ideia de carreira típica de um
Estado que está sendo desconstruído sugere que esses companheiros,
de alguma forma, estão sendo ludibriados e usados na facilitação
do processo da desconstrução institucional da Seguridade.
Todo
esse processo que usa a tecnologia como fator de sustentação de
suas ações, e tem na ideia de modernidade sua propaganda mais
eficaz, aponta para a criação de uma casta de burocratas, analistas
de processos administrativos, muito distantes da realidade social
caótica na qual sempre estivemos mergulhados, produzida por um
sistema perverso de apartheid social, e muito distantes da realidade
vivida por parcela considerável do povo brasileiro, sobretudo após
a adoção de medidas ultraneoliberais patrocinadas pelo governo
golpista que assumiu os rumos da nação a partir de 2016.
Contudo,
aqueles companheiros não devem ser discriminados por sua postura
equivocada em relação ao povo e à classe trabalhadora, sua própria
classe, pois, a exemplo de grande parte da população das classes
médias desse país, possuem uma enorme dificuldade de se alinhar ao
povo, preferindo se alinhar à elite, da qual sentem enorme admiração
e inveja, tendo sido forjados na ideia do "self made man",
que fomenta um individualismo exacerbado, e se caracteriza como um
dos elementos mais importantes em todos os tempos da ideologia
neoliberal.
Curitiba,
31 de agosto de 2018
Sérgio Moab Amorim de Albuquerque - CRP 08/08067-7
Psicólogo / Psicanalista / Servidor Público
Formação em Gestão Estratégica de Pessoas / Abordagem Psicanalítica / Sociologia Política
Copyright © 2018 by SÉRGIO MOAB AMORIM DE ALBUQUERQUE All rights reserved