Sobre
o filme “Quando meus pais saíram de férias”.
Um
excelente filme nacional que versa sobre um período tenebroso de
nossa história, o período da ditadura militar. O diretor do filme
trouxe para a tela, de forma magistral, pelo menos para mim, aquela
mesma sensação de aparente calmaria que, os que não estavam
diretamente envolvidos no conflito sentiam, enquanto vigorava a
violência nos bastidores da vida nacional.
Na
atualidade de nosso país, após o advento de mais um golpe de Estado
instalado em território nacional, parece extremamente pertinente
abordar sobre o regime de exceção instalado naquela época, já que
o recrudescimento deste golpe pode nos arrastar a um novo período de
grande violência. E isso já se faz sentir em eventos que pipocam
aqui e acolá.
Sobre
o filme "El Patrón", que versou sobre a escravidão
moderna, pela ausência da proteção da Instituição do Direito na
relação capital x trabalho.
Todos
os elementos do trabalho escravo moderno estão presentes no filme,
como a falta de um contrato formal, o confisco de documentação, o
alojamento precário e inadequado, as agressões e o assédio moral,
e as promessas que nunca são cumpridas.
No debate, que se seguiu à exibição do filme, entre as questões que chamaram a atenção, uma delas foi crucial para chegarmos à raiz, mais além das questões acima mencionadas, e diz respeito à forma de enfrentamento da situação. A pergunta nos depara com o perfil e a personalidade dos personagens, e nos indaga o porquê da manutenção daquela relação, aparentemente tão desfavorável para a parte mais fraca. Evidentemente, pode-se perceber que as condições impostas pelo contexto social e materiais que envolviam a vida do sujeito o obrigaram a se manter na situação desfavorável. Contudo, após o trágico desfecho, o personagem trabalhador retoma sua vida anterior, da qual pretendia escapar. E aqui nos vem imediatamente um questionamento do porquê não fez antes da tragédia anunciada.
No debate, que se seguiu à exibição do filme, entre as questões que chamaram a atenção, uma delas foi crucial para chegarmos à raiz, mais além das questões acima mencionadas, e diz respeito à forma de enfrentamento da situação. A pergunta nos depara com o perfil e a personalidade dos personagens, e nos indaga o porquê da manutenção daquela relação, aparentemente tão desfavorável para a parte mais fraca. Evidentemente, pode-se perceber que as condições impostas pelo contexto social e materiais que envolviam a vida do sujeito o obrigaram a se manter na situação desfavorável. Contudo, após o trágico desfecho, o personagem trabalhador retoma sua vida anterior, da qual pretendia escapar. E aqui nos vem imediatamente um questionamento do porquê não fez antes da tragédia anunciada.
A
resposta a essa questão pode estar contida na despedida das dias
famílias, e na pergunta efetuada pela mulher do advogado ao marido:
“você percebeu que ele começou a te tratar como patrão?!” Mais
ou menos isso. Ora neste caso, como em qualquer relação humana, uma
espécie de sedução, onde o sujeito subserviente se oferece ao
outro em sacrifício. A relação vingará, desde que o outro aceite
a proposta mórbida, exatamente como aconteceu na relação com o
Patrón. Constrói-se assim uma relação simbiótica, onde um é
complemento do outro, respondendo a um desejo mórbido com desfecho
previsto.
Essa situação nos leva a pensar no par clássico da psicanálise, a união sado-masoquista, onde um goza pela pele, no real, e o outro pelo olho, no imaginário. O desfecho nos traz a dimensão real e simbólica da tragédia, onde ambos sofrerão as consequências daquela simbiose mórbida, embora é possível afirmar que o o sádico, se pensarmos a vida como um bem precioso, foi quem mais perdeu, embora tenha conseguido chegar ao gozo supremo, qual seja a própria morte.
Essa situação nos leva a pensar no par clássico da psicanálise, a união sado-masoquista, onde um goza pela pele, no real, e o outro pelo olho, no imaginário. O desfecho nos traz a dimensão real e simbólica da tragédia, onde ambos sofrerão as consequências daquela simbiose mórbida, embora é possível afirmar que o o sádico, se pensarmos a vida como um bem precioso, foi quem mais perdeu, embora tenha conseguido chegar ao gozo supremo, qual seja a própria morte.
Mas,
pensando na civilização, e a necessidade de manutenção da própria
vida para sua preservação, voltamos à pergunta da audiência sobre
qual a solução. E é a civilização e sua cultura que nos traz a
resposta, pois a solução está na preservação, na manutenção,
no aprimoramento e na defesa da instituição do direito e das Leis
protetivas da pessoa e dos direitos humanos, por meio de um estado
forte e interventor, com Leis trabalhistas protetivas, que deem conta
da preservação do homem, este incorrigível predador, inclusive de
si mesmo.
Sobre
o filme "Terra Vermelha", de 2008.
Uma
produção italiana que mostra, em diversos aspectos, a luta dos
povos originais da terra nomeada Brasil pelos invasores portugueses
para recuperar suas origens, sua dignidade e espaço na terra
confiscada pelos invasores. O filme é riquíssimo nos detalhes de
uma luta desigual e desumana, onde muitas vezes, a solução
encontrada pela nação Kaiwá, para o conflito interno intrapsíquico
que se instala em cada indivíduo, é vista no suicídio.
A
parte central e mais emblemática do filme é quando o fazendeiro,
acompanhado de um procurador de justiça, encara o chefe do clã que
reivindica a terra de seus ancestrais, pega um punhado de terra e
fala da presença na terra desde os seus avós. O chefe Kaiwá também
pega um punhado de terra e a come, numa clara mensal ao pertencimento
à terra e sua ancestralidade. Nesse momento, não há palavras a
serem ditas.
No debate, a questão principal foi sobre o que fazer para resolver a questão desse martírio de 500 anos e o genocídio que se segue nos dias atuais. A terra foi invadida e está ocupada, hoje somos todxs filhos dessa terra, povos originais e descendentes desses e dos invasores. Portanto, a solução humana e possível é o respeito e a inclusão, e a reverência que precisamos fazer à nossa ancestralidade diversa. Os povos originais são nossos ancestrais tanto quanto os invasores portugueses e os migrantes que coloriram nossa nação, merecem respeito, reverência e temos muito a aprender mutuamente para, de fato, construirmos uma nação mais humana e inclusiva.
No debate, a questão principal foi sobre o que fazer para resolver a questão desse martírio de 500 anos e o genocídio que se segue nos dias atuais. A terra foi invadida e está ocupada, hoje somos todxs filhos dessa terra, povos originais e descendentes desses e dos invasores. Portanto, a solução humana e possível é o respeito e a inclusão, e a reverência que precisamos fazer à nossa ancestralidade diversa. Os povos originais são nossos ancestrais tanto quanto os invasores portugueses e os migrantes que coloriram nossa nação, merecem respeito, reverência e temos muito a aprender mutuamente para, de fato, construirmos uma nação mais humana e inclusiva.
Sobre
o filme "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela
Thomas.
O
filme versa sobre o dia a dia de sobrevivência de uma trabalhadora
doméstica, grávida, e seus quatro filhos, jogando com o destino em
meio à enorme desigualdade e exclusão, promovida por um sistema
que, a cada nova jogada, aumenta o fosso social em um país com
imensas riquezas.
A
cada momento da trama é possível perceber o flerte dos personagens,
empurrados pelo sistema, para a delinquência e a criminalidade,
sustentados pela falta e injustiça social.
Um filme para refletir sobre o nosso papel como cidadãos diante da injustiça e da miséria, vetor incontestável para a delinquência e o crime.
Um filme para refletir sobre o nosso papel como cidadãos diante da injustiça e da miséria, vetor incontestável para a delinquência e o crime.
Sobre
o o filme "Quase Dois Irmãos".
Na
obra, onde a trama se desenvolve em três períodos de nossa
história, Antes do Golpe de '64, durante a Ditadura Militar e no
dias atuais, dois personagens vivenciam a profunda desigualdade e o
apartheid racial no Brasil de todos os tempos.
A
trama, que conta a história do surgimento do Comando Vermelho na
cidade do Rio de Janeiro, nos traz o momento de encontro daqueles que
iniciaram essa organização criminosa com aqueles que lutavam por
uma sociedade mais justa e contra a ditadura militar. Sugere-se que
esse encontro, ocasionado pela não discriminação, por parte do
governo militar, para o enquadramento na chamada Lei de Segurança
Nacional, trouxe uma série de elementos da organização da
resistência à ditadura para a organização criminosa.
O debate que se seguiu foi extremamente fecundo, conduzido pela doutora Camila Caldeira Nunes Dias, e nos trouxe, além da visão da guerra civil que se trava em nosso país, a grande pergunta de como enfrentar a questão da criminalidade e a enorme desigualdade e apartheid social que a gera.
O debate que se seguiu foi extremamente fecundo, conduzido pela doutora Camila Caldeira Nunes Dias, e nos trouxe, além da visão da guerra civil que se trava em nosso país, a grande pergunta de como enfrentar a questão da criminalidade e a enorme desigualdade e apartheid social que a gera.
A
meu ver, a única solução para a questão das drogas, retratada no
filme, é a assimilação do comércio pelo mercado, ou seja a
legalização do uso e comercialização, com controle do Estado, e
um grande investimento em saúde pública. Além disso, o combate à
desigualdade é condição sine qua non para o combate e controle da
criminalidade, de forma geral. Qualquer outra possível solução é
apenas discurso vazio, e que tende a favorecer unicamente à elite
que lucra com o tráfico e a sua ilegalidade, e a aumentar as
estatísticas de mortes e a violência que, de forma esmagadora e
absoluta, atinge, principalmente, as classes menos favorecidas.
Sobre
o filme "Narradores de Javé".
Uma
produção de 2005 que, com um leve toque de humor, traz reflexões
importantes sobre direito à Memória e relações sociais e
econômicas no mundo do sistema capitalista.
A
história trata do conflito disseminado no seio de um povoado pobre,
onde seus integrantes são todos analfabetos, às voltas com a
invasão do sistema econômico que, para suas realizações
capitalistas, precisa inundar a área onde foi edificado o
povoado.
Os habitantes tentam reconstruir e registrar sua história como forma de defesa em relação a invasão, contudo o poder econômico é absoluto, e a ingenuidade e a fragilidade pueril dos membros da comunidade não permitiram o enfrentamento com tamanha força destrutiva.
A meu ver, o único membro do povoado que esboça uma certa capacidade de enfrentamento, e porque sua história o fez "perder o medo", é o personagem que atira nos engenheiros da empresa, mas logo é contido pelos demais moradores, seguidores servis de um mito redentor.
Os habitantes tentam reconstruir e registrar sua história como forma de defesa em relação a invasão, contudo o poder econômico é absoluto, e a ingenuidade e a fragilidade pueril dos membros da comunidade não permitiram o enfrentamento com tamanha força destrutiva.
A meu ver, o único membro do povoado que esboça uma certa capacidade de enfrentamento, e porque sua história o fez "perder o medo", é o personagem que atira nos engenheiros da empresa, mas logo é contido pelos demais moradores, seguidores servis de um mito redentor.
De
qualquer forma, é importante lembrar a importância da Memória para
se evitar tragédias humanas ocorridas na civilização que, sem essa
memória, tem o potencial de se repetir com mais facilidade. Um
exemplo clássico na história é o holocausto judeu durante a
segunda guerra mundial, cuja memória tenta abafar as diversas
tentativas espalhadas na civilização de reacender o que foi o
nazifascismo para a humanidade
Sérgio Moab Amorim de Albuquerque - CRP 08/08067-7
Psicólogo / Psicanalista / Servidor Público
Formação em Gestão Estratégica de Pessoas / Abordagem Psicanalítica / Sociologia Política
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