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segunda-feira, 9 de julho de 2018

PERDER O MEDO...


...E ATACAR O INIMIGO.

Urge, em tempos tão sombrios, a perda total e absoluta do medo para o enfrentamento do opressor. Essa lição nos é dada por uma personagem do filme Narradores de Javé, que enfrenta os engenheiros de uma empreiteira que tem como objetivo inundar o povoado de Javé, transformado-o em um lago para uma usina hidroelétrica, sepultando assim sua história sob as águas do "progresso".

O caráter simplório e servil do povo brasileiro está muito bem retratado naqueles que, na cidade, tentam conter o único habitante que ousa enfrentar o algóz, exatamente por ter perdido o medo. E essa personagem perdeu o medo por ter experienciado a invasão, a agressão e a morte de seu genitor dentro da própria casa. E, não por coincidência, há algo de similar que nos une a Javé, e que se passa no Brasil de hoje.

As atrocidades que o Golpe de 2016 tem promovido no país, e a falta de resposta à altura do povo, nos dá a dimensão exata deste medo subserviente e servil que acomete toda a população. Os maiores absurdos contra o povo e a nação estão sendo cometidos sem que uma resposta mais contundente seja proferida contra os serviçais do capital internacional e da destruição do Brasil e dos brasileiros. A desconstrução do bem-estar social, com os ataques à saúde, à assistência, à previdência, e à educação públicas carecem de uma resposta dura por parte do povo que, sem essas políticas, perecerão na indigência, em uma sociedade cada vez mais desigual.

Concomitantemente à destruição do estado, que tem em sua arquitetura a estratégia do congelamento dos gastos por vinte anos, o patrimônio público e a soberania nacional são entregues ao capital internacional, com a desculpa mentirosa da incapacidade do estado de gerir o patrimônio público. Durante muito tempo foi assim! Maus brasileiros, que apostam na pouca capacidade de discernimento de alguns e na ingenuidade manipulada de uns tantos outros, usurpam o patrimônio do povo em troca de enriquecimento pessoal.

E esses arautos da miséria apostam no medo do povo, disseminando a ideia de uma nação ordeira e pacífica, em detrimento de uma realidade cada vez mais destrutiva e promotora de um fosso social inimaginável. E muito do patrimônio do povo e da nação já se foi nas águas do Golpe, como a Embraer, o Pré-sal, a Base de Alcântara, os Direitos Trabalhistas, o Ciências sem Fronteiras, o Orçamento Reajustado, o Controle dos Agrotóxicos, a Farmácia Popular, o Fundo Soberano e a própria Democracia.

Na verdade, somos um povo mantido a chicote desde sempre, que tem na autoridade opressora, e no poder altamente verticalizado, sua estrutura de dominação opressiva. A história do Brasil é uma história de opressão e imbecilização de sua gente. A experiência de mais de trezentos anos de escravidão, as diversas tentativas de controle da liberdade dos corpos indígenas que jamais assimilou a cultura invasora, os sucessivos golpes perpetrados pelo poder econômico e a perpetuação do status de colônia no imaginário, forjaram uma situação de apartheid entre a massa do povo e o estado, ou entre esse imagiário construído e a realidade. A falta de identificação com a própria nação e o medo desmedido são os maiores inimigos da liberadade e da própria existência.

A quadrilha que assumiu o país desde então (Golpe de 2016) desconstrói o país a cada nova cartada, a cada nova investida, protegida por um poder judiciário comprometido até a tampa com essa arquitetura da destruição. A maior prova desse envolvimento está tipificada nos últimos acontecimentos, manobras notadamente ilegais que, subvertendo a instituição do direito, expoem cada vez mais as víceras do conluio golpista.

Só a perda absoluta do medo, medo do pai-patrão, medo da autoridade despótica, medo da polícia repressiva e até mesmo o medo de deus, estruturas forjadas para o controle do corpo e da alma, poderia libertar o ser cidadão/brasileiro para sua autoafirmação e a libertação desse controle opressivo. O povo brasileiro carece dessa autoafirmação, desse empoderamento enquanto pessoa e cidadão, como o indivíduo dentro do processo analítico, para passar a ser agente de seu meio, na defesa de seu espaço e de seu território.


Sérgio Moab Amorim de Albuquerque - CRP 08/08067-7
Psicólogo / Psicanalista / Servidor Público 
Formação em Gestão Estratégica de Pessoas / Abordagem Psicanalítica / Sociologia Política 
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